O Mito da Educação
O oralismo visa a
integração da criança surda na comunidade ouvinte, observando a surdez como uma
deficiência que deve ser minimizada pela estimulação auditiva. Assim, esta
corrente educacional prioriza desenvolver uma personalidade ouvinte em uma
pessoa surda em direção à “normalidade” e “não-surdez”. A crença de que a
língua oral é a única forma desejável de comunicação é predominante para os
educadores que se baseiam nesta filosofia. Para o oralismo,
A criança surda deve,
então, se submeter a um processo de reabilitação que inicia com a estimulação
auditiva precoce, ou seja, que consiste em aproveitar os resíduos auditivos que
quase a totalidade dos surdos possuem e possibilitá-las a discriminar os sons
que ouvem [...] deve chegar à compreensão da fala dos outros e por último
começar a oralizar. Este processo, que deve ser iniciado ainda no primeiro ano
de vida, dura em torno de 8 a 12 anos, dependendo das características
individuais da criança (GOLDFELD, 2001, p. 32).
Os surdos que conseguem
dominar as regras da língua oficial, no caso brasileiro, a língua portuguesa, e
conseguem falar – oralizar – são considerados bem-sucedidos e aptos como
membros da comunidade ouvinte. Porém, a história da educação surda nos mostra
que as crianças geralmente não têm acesso a uma educação especializada e que a
língua oral não dá conta de todas as necessidades e especificidades da
comunidade surda.
Já a comunicação total
possui como principal preocupação os processos comunicativos entre surdos e
surdos e entre surdos e ouvintes, considerando que os aspectos cognitivos,
emocionais e sociais não devem ser deixados de lado em prol do aprendizado
exclusivo da língua oral. Tal corrente utiliza basicamente recursos espaços-visuais
como facilitadores de aprendizagem. Esta filosofia defende o uso de qualquer
recurso lingüístico para facilitar a comunicação: sinais, oralidade ou códigos
manuais.
Nesse ponto, a família é
bastante valorizada, uma vez que cabe a mesma o papel de compartilhar valores e
significados na formação da subjetividade da criança surda. Entretanto, a
comunicação total não privilegia o fato de a língua de sinais ser natural e
carregar uma cultura própria. Além disso, a mesma cria recursos artificiais
para facilitar a educação surda, o que pode provocar uma dificuldade de
comunicação entre surdos que dominam códigos diferentes da língua de sinais.
Entre as principais metodologias da comunicação total encontram-se: LIBRAS,
datilologia, “cued-speech” (sinais manuais), português sinalizado, pidgin
(simplificação da gramática de duas línguas – portuguesas e de sinais).
Diferentemente das
filosofias mencionadas anteriormente, o Bilingüismo prega a aceitação e a
convivência com a diferença, procurando aproximar e facilitar a comunicação
entre a criança surda e a família ouvinte. O pressuposto básico desta filosofia
é o aprendizado da língua materna e natural (de sinais) e como segunda língua a
oficial do país (para nós, o português brasileiro). Um diferencial profundo
nesta concepção é a aceitação da surdez, dado que o surdo não precisa almejar
uma vida semelhante ao ouvinte. Nesse contexto, podemos compreender que o povo
surdo forma uma comunidade com cultura, língua e identidade próprias.
Disponível em: http://editora-arara-azul.com.br/novoeaa/revista/?p=466
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