quinta-feira, 14 de agosto de 2014

A sociedade seria o foco principal da educação


A Sociedade seria o foco principal da educação!!!


Espaço Livre > Sobre surdos, libras, acessibilidade e notícias equivocadas sobre surdez

Paula Pfeifer
Paula Pfeifer
POR PAULA PFEIFER
Me corta o coração quando um jornalista, escritor ou qualquer outra pessoa cujo trabalho atinge milhares de outras pessoas publicainformações equivocadas a respeito do assunto surdos e surdez. É tanta generalização que não sei nem por onde começar. Em primeiro lugar, a parte mais desgastante (e isso é por preguiça de pesquisar o assunto) é ter que ler as seguintes bobagens:
• todo surdo é mudo
• todo surdo se comunica através de LIBRAS
• a língua de sinais é a língua do surdo
• crianças surdas devem estudar em escolas especiais para surdos
• todo surdo precisa de intérprete
• acessibilidade para surdos é a janelinha com o intérprete na TV
• quem nasce surdo vai continuar surdo até o fim da vida
• todo surdo faz parte da “comunidade surda”
Pelo amor de Deus, gente!! Afirmar esse tipo de coisa é um absurdo, em pleno ano de 2011. Vamos esclarecer, então?
Eu sou surda. Eu NÃO me comunico através de Libras. Eu falo. Eu escuto muito bem com aparelhos auditivos. Nunca estudei em escola especial. Não preciso de intérprete. Acessibilidade pra mim tem a ver com legendas nos programas de TV, avisos luminosos em certos locais, atendimento via chat, SMS e coisas assim – aquela janelinha de Libras na TV e chinês pra mim são a mesma coisa. Não faço e nem quero fazer parte de nenhuma “comunidade surda”.
Dá até vontade de perguntar: “entendeu ou quer que eu desenhe??”
Existem surdos sinalizados (estes sim podem se enquadrar nas informações descritas lá em cima no início do post) e surdos oralizadosSurdos oralizados usam aparelhos auditivos ou implantes cocleares (ou não usam nenhum dos dois, inclusive) e são experts em leitura labial. Surdos oralizados falam como qualquer pessoa ‘normal’ (ou melhor, ouvinte). Algunssurdos oralizados também conhecem a Libras e se comunicam com seus amigos/colegas/parentes que são sinalizados através dela – e são considerados bilíngues.Surdos oralizados são pessoas independentes, dominam o português falado e escrito e não necessitam de uma terceira pessoa envolvida na sua comunicação (um intérprete).Surdos oralizados NÃO vivem em função da surdez e NÃO vivem presos a um grupo pequeno de pessoas (a chamada “comunidade surda”).
A sensação que eu tenho quando leio qualquer notícia sobre surdos/surdez que envolva também a Libras é de que a pessoa que escreveu sentiu pena. “Ai, coitadinhos“. Raríssimos são os jornalistas/escritores IMPARCIAIS quando se trata desse assunto. Se existem dois tipos de surdos e os mais variados graus de surdez, vamos esclarecer isso, pôxa! Hoje em dia, ser surdo não significa viver no silêncio – os aparelhos auditivos de última geraçãoe os implantes cocleares estão aí para provar!!
Agora, me digam:
• Onde está o futuro e as perspectivas profissionais de alguém que não domina a língua do país no qual vive – e não estou falando do português falado, mas sim do português escrito??
• Porque o governo não investe dinheiro em uma educação intensiva e de qualidade direcionada a surdos sinalizados para que eles dominem TAMBÉM o português escrito e não sejam eternamente dependentes de alguém??
• Como alguém pode achar que um pai ou uma mãe que querem dar ao seu filho surdo a opção de ouvir estão aniquilando a criança?
• Como alguém pode julgar os pais que querem que seu filho surdo conviva com todos os tipos de crianças e não viva em função de uma deficiência?

Disponível em: http://www.cvi-rio.org.br/sobre-surdos-libras-acessibilidade-e-noticias-equivocadas-sobre-surdez/

O Mito da Educação


O Mito da Educação
O oralismo visa a integração da criança surda na comunidade ouvinte, observando a surdez como uma deficiência que deve ser minimizada pela estimulação auditiva. Assim, esta corrente educacional prioriza desenvolver uma personalidade ouvinte em uma pessoa surda em direção à “normalidade” e “não-surdez”. A crença de que a língua oral é a única forma desejável de comunicação é predominante para os educadores que se baseiam nesta filosofia. Para o oralismo,

A criança surda deve, então, se submeter a um processo de reabilitação que inicia com a estimulação auditiva precoce, ou seja, que consiste em aproveitar os resíduos auditivos que quase a totalidade dos surdos possuem e possibilitá-las a discriminar os sons que ouvem [...] deve chegar à compreensão da fala dos outros e por último começar a oralizar. Este processo, que deve ser iniciado ainda no primeiro ano de vida, dura em torno de 8 a 12 anos, dependendo das características individuais da criança (GOLDFELD, 2001, p. 32).

Os surdos que conseguem dominar as regras da língua oficial, no caso brasileiro, a língua portuguesa, e conseguem falar – oralizar – são considerados bem-sucedidos e aptos como membros da comunidade ouvinte. Porém, a história da educação surda nos mostra que as crianças geralmente não têm acesso a uma educação especializada e que a língua oral não dá conta de todas as necessidades e especificidades da comunidade surda.

Já a comunicação total possui como principal preocupação os processos comunicativos entre surdos e surdos e entre surdos e ouvintes, considerando que os aspectos cognitivos, emocionais e sociais não devem ser deixados de lado em prol do aprendizado exclusivo da língua oral. Tal corrente utiliza basicamente recursos espaços-visuais como facilitadores de aprendizagem. Esta filosofia defende o uso de qualquer recurso lingüístico para facilitar a comunicação: sinais, oralidade ou códigos manuais.

Nesse ponto, a família é bastante valorizada, uma vez que cabe a mesma o papel de compartilhar valores e significados na formação da subjetividade da criança surda. Entretanto, a comunicação total não privilegia o fato de a língua de sinais ser natural e carregar uma cultura própria. Além disso, a mesma cria recursos artificiais para facilitar a educação surda, o que pode provocar uma dificuldade de comunicação entre surdos que dominam códigos diferentes da língua de sinais. Entre as principais metodologias da comunicação total encontram-se: LIBRAS, datilologia, “cued-speech” (sinais manuais), português sinalizado, pidgin (simplificação da gramática de duas línguas – portuguesas e de sinais).


Diferentemente das filosofias mencionadas anteriormente, o Bilingüismo prega a aceitação e a convivência com a diferença, procurando aproximar e facilitar a comunicação entre a criança surda e a família ouvinte. O pressuposto básico desta filosofia é o aprendizado da língua materna e natural (de sinais) e como segunda língua a oficial do país (para nós, o português brasileiro). Um diferencial profundo nesta concepção é a aceitação da surdez, dado que o surdo não precisa almejar uma vida semelhante ao ouvinte. Nesse contexto, podemos compreender que o povo surdo forma uma comunidade com cultura, língua e identidade próprias.

Disponível em: http://editora-arara-azul.com.br/novoeaa/revista/?p=466